quinta-feira, 17 de junho de 2010

Cotidiano

na sala de estar eu vejo uma janela
eu vejo quadrados,
vejo grades
ouço música brasileira,
som de pandeiro
do outro lado da calçada
tem um puteiro
ali, residem fracos corações
que trabalham noite e dia
num ganha pão interminável
saciando a sede de quem não pode beber água todo dia
fazem fracas orações
se viram pro canto e dormem.
Já precisam mudar de quarto.

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Soltar
pela boca
um suspiro de loucura,
um rugido de calmaria,
num abafar livre
e sem forças,
saltar para longe!
Mostrando com minhas asas,
que não vou mais tocar o chão.

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Ela tinha em cada centímetro de seu vestido surrado, uma pétala estampada de rosa
Tinha os olhos calmos, porém intensos, ela sabia que não era ali que deveria estar, que era
pequeno demais pra ela.
Ela ocupava muito espaço.
Ela era cheia de amor, e o lugar era vazio de coração.
Até que um dia,
Naquelas quatro paredes, apareceu uma sombra.
A sombra não tinha um formato específico
Só prensou seu corpo contra a parede sufocante, lhe disse que não havia como escapar dali, pois seu coração era pequeno proporcional ao lugar em que estava. Não cabia muito amor ali.
Ela precisava explodir, em mil pétalas, pra conseguir espalhar oque sentia e aumentar seu coração.
Mas como explodir em quatro paredes de concreto?
O concreto era mole, comparado a dureza das palavras ditas pela escuridão.
E ela pensou, pensou e pensou: ela deveria explodir com dureza em suas palavras também.
Por mais fortes que suas palavras fossem a sombra tinha outras mais duras que as suas, as vezes, ela se deixava vencer, e a sombra começava a tomar conta de seu coração, quando ela via a luz, tentava denovo, com palavras fortes, firmes e duras.
Até que jogada ao chão cansada da sua guerra de palavras, deixou sair da sua boca as palavras: "pode me devorar Sombra, sou tão frágil quanto uma flor, tão delicada quanto as pétalas da rosa de meu vestido, não consigo lutar, não sou forte como você'
ao ouvir as mansas palavras, a sombra fugiu, como quem vê sair de dentro de uma mulher um monstro terrível.

A sombra só sabia lutar contra palavras duras, não sabia oque fazer diante de palavras delicadas.