sábado, 2 de outubro de 2010


_Choveram em mim!
Ouvi o grito da janela da cozinha.
_Choveram... Sem deixar vestígios!
Não enchergo ninguém no quintal, somente ouço a voz a gritar, e sinto o cheiro da chuva... Vejo as gotas de orvalho caladas, aflitas:
_Quem foi que choveu? -Pergunto eu. Mas elas escorrem silenciosas para a terra fofa.
O cachorro me acompanha, abaixa as orelhas e fixa um olhar medroso no portão.
_Foi você que choveu?!- Pergunto, vendo ele me olhar interrogativamente.- Claro que não, cachorros não chovem!
Corro pela quintal em busca da voz que reclama da chuva:
_Quem choveeu?! Vem me contar... Quem choveu em você?!- O silêncio me responde....- Não vou te machucar, me conta... Quem choveu?! - Ouço uma voz chorosa:
_Choveram em toda a minha roupa, choveram no meu colchão! Choveram e foram embora, quem faria isso com uma pobre mulher?!
_ME diz, onde está você?! Quero te ajudar....- Olho pro chão e vejo que as bordas do meu vestido amarelo já são marrons, e meus sapatos de pano já cairam do pé- Quem choveu?! Quem fez uma maldade dessas?!
Corro pela grama, sentindo as pedras nas solas dos pés... Sinto a chuva molhar meu rosto. E grito. E berro:
_SOCORRO! ESTÃO CHOVENDO EM MIM!
Senti a chuva molhar meu vestido, deixá-lo tranparente. Molhar entre minhaspernas, meus cabelos, meus seios, senti meus olhos se molharem sozinhos, senti a chuva se misturar no meu suor, até que viramos uma coisa só: choviscada.
Deite-me cansada na grama, e vi a chuva me abandonar. Após tanto chover em meu corpo. Me deixou ali, jogada à lama. Molhada.